sexta-feira, 16 de março de 2012

Ricardo Darín

Não é propaganda da NetMovies, mesmo porque, existem vários serviços similares de locação online como o da BlockBuster, NetFlix, Pipoca, SkyOnLine, etc... O fato é que considero uma mão na roda escolher e receber filmes em casa, e melhor ainda seria se minha tv fosse smart e eu pudesse assistir filmes, seriados e programas diretamente da internet. Enfim, ainda que usando a mídia convencional, sou fã desse tipo de serviço. Além da comodidade, o preço dos pacotes mensais é muito bom se considerarmos que um plano médio com direito a 10 locações/mês sai quase o mesmo preço de locação de um único DVD numa locadora como a 2001, por exemplo.

Se para os cinéfilos a tarefa de incluir em média 30 filmes na lista de desejos seja fácil, admito que tive que pensar, repensar, e pedir sugestões para o marido, parentes e amigos. Aproveitando um dos poucos pontos comuns entre meu gosto e do marido, os filmes argentinos, claro que busquei a filmografia de Ricardo Darín,  que deve ser o ator argentino de cinema mais famoso, tal qual o Selton Mello é para os brasileiros.


Ricardo Darín - belos olhos azuis meio oblíquos


Já tinha assistido alguns filmes adoráveis com ele:
O Filho da Noiva
O Segredo de Seus Olhos
Clube da Lua

Os três são lindos, emocionantes e famosos, altamente recomendáveis. Estou muito curiosa com o mais recente filme em que ele atuou chamado O Conto Chinês, mas por ser lançamento estou numa espécie de fila de espera.

Recebi ontem um outro filme com ele chamado O Mesmo Amor, a Mesma Chuva, um romance dirigido por Juan José Campanella, que também dirigiu o Filho da Noiva e com a participação de Soledad Villamit (linda atriz e cantora, também presente naquele filme). Confesso que apesar dos dois ótimos atores, a história não atingiu as minhas expectativas, achei os diálogos um pouco chatos e o conflito principal (encontros e desencontros do casal) pouco aprofundado. De repente o conflito se instala, o humor muda, e você não entende muito bem o porquê. O personagem de Darin é um jornalista talentoso, um homem sensível, que valoriza os amigos, mas que se deixa levar por diversas tentações ao longo da vida, como paqueras fáceis que culminaram numa traição conjugal, a falta de solidariedade com um amigo que lhe pede emprego e que desembocou num eterno sentimento de culpa e dívida, e o comodismo intelectual que lhe impediu de seguir sua carreira como escritor de contos e romances e o aprisionou num emprego como colunista de um jornal medíocre escrevendo matérias "encomendadas". Na história do casal de protagonistas a convivência evidenciou seus diferentes pontos de vistas e de atitudes perante a vida. Ela mais corajosa atirou-se rumo aos sonhos, abandonou o antigo namorado ausente e seu emprego de garçonete para dedicar-se ao novo romance e ao mundo das artes sem se preocupar tampouco com questões financeiras. Com isso, ao mesmo tempo em que seu discurso assumia uma atitude de acusação, cobrando que seu parceiro também fosse mais arrojado a fim de voltar a escrever e publicar seus contos, ela não só invadiu sua privacidade ao compilar e corrigir suas obras sem sua autorização, como de certo modo relegou-o a assumir uma atitude compensatória à dela, reagindo com fúria e rejeição àquela convivência que o tirava da zona de conforto ao incitar-lhe a buscar seus sonhos.

Darin e Villamit - ela sempre elegante com suas belas madeixas negras e ligeiramente onduladas


Outro filme que chegou aqui em casa com o Ricardo foi Abutres. É interessante, dinâmico mas o tema em si é muito pesado. Conta a história de uma médica socorrista que trabalha numa ambulância e uma espécie de advogado que vai atrás de vítimas de acidentes a fim de convencê-los a abrir processos que possam gerar boas indenizações. O tema já não é  muito convidativo pelo teor trágico e violento, além do mais as imagens são muito fortes. Sou partidária de assistir mais coisas belas e harmoniosas do que as feias, pois de tristeza já basta algumas situações da vida...

Pois é... por enquanto, da filmografia de Darín recomendo apenas aqueles três filmes anteriormente citados e olhe lá. Vamos aguardar pelo Conto Chinês. Depois comento.

Mais uma foto de Soledad em bela produção. O Fundo verde sob a imagem acinzentada me chamou a atenção pois estou numa fase particularmente esverdeada em termos de decoração de salas... nos próximos posts discutirei a questão.




quarta-feira, 7 de março de 2012

Tardes Vazias

As novelas são uma arte diferente. Não são documentário, mas pretendem simular a vida real. Não são literatura mas têm romance, personagens, diálogos e contam uma história. Não são cinema mas usam imagem, fotografia, enquadramento, figurino e cenário para emocionar, encantar, criar uma ilusão.

Assim como aconteceu com o carnaval e com a pizza, o Brasil conseguiu desenvolver um modo muito particular de fazer novelas, diferente do modo como o resto do mundo faz. Refiro-me logicamente à rede Globo, líder de audiência que em muitos e muitos anos de prática (a produzir no mínimo três novelas por dia) conseguiu chegar a um patamar de excelência não apenas almejado por várias emissoras (que ainda produzem cenários que parecem de papelão e têm o triste fardo de contratar os piores atores do mercado), mas também exportado para o mundo todo. Cá entre nós, críticas à parte, nossas novelas globais até que não fazem feio se compararmos com seriados, novelas e outros programas da tv mundial que chegam até nós via TV a cabo.

Fato é que a TV Globo, ainda neste quesito líder de audiência, tem dinheiro para contratar os melhores profissionais que incluem desde os operadores de câmera, diretores, atores e preparadores de elenco, construir os cenários mais realistas e detalhados e investir em equipamentos muito caros como as câmeras que têm um determinado filtro que faz a imagem sofrer um embelezamento, ou seja, a pele dos atores fica sedosa, com um brilho acetinado.

Quem me conhece deve estar estranhando, pois passo longe de ser uma noveleira. Mas elogios são o justo contraponto às corriqueiras críticas que podem ser tecidas frente a defeitos que minha opinião tornam algumas novelas intragáveis: o péssimo roteiro, repleto de clichês, diálogos fúteis, reviravoltas desnecessárias só para encher linguiça, merchandising explícito, etc. e etc.

No entanto, em meio a tantos mecanismos que fazem as telenovelas globais produto de natureza controversa, é possível pressentir a arte, fenômeno que quando menos se espera arrepia os poros do telespectador atingindo de modo implacável o campo da subjetividade. Não se sabe bem o porquê, em alguns casos algumas novelas movimentam sentimentos, pensamentos e comportamentos, lançando um sutil convite à devoção. E quando menos se espera você está imerso num ritual diário muito natural, suave, que não te exige muito raciocínio, só seus olhinhos abertos e conectados às cenas. Você viu a cena do acidente que Manuela e Ana sofreram em A Vida da Gente?

O mote a partir do qual a maioria das novelas são escritas não me agrada mas essa novela por diversos e difusos motivos entrou para o rol de favoritas ao lado de Que Rei Sou Eu?, Vamp, A Lua Me Disse e Cordel Encantado.

Primeiro, ousadamente ambientada no sul do Brasil, deleitou os olhos de quem vive no eixo Rio-São Paulo e já curte o suficiente as paisagens cinzentas e poluídas das grandes cidades. Transitando no clima provençal de Gramado e Porto Alegre a cenografia foi impecavelmente delicada, primorosa. Dona Iná morava numa espécie de casa de bonecas, mas praticamente todos os personagens, cada um no seu estilo, morava em lares repletos de referências altamente desejáveis e atuais em termos de decoração: padronagem floral nos tecidos, petit poás, listras, peças de patchwork, crochê, papel de parede,  tons pastéis, paredes repletas de quadrinhos ou pratos decorativos, luzinhas com copinho em formato de flor, abajur feito com xícaras sobrepostas inspirado no filme Alice... (suspiro). Cada detalhe parecia evocar a doce ilusão olfativa de que a qualquer momento um bolo de laranja quentinho sairia do forno ao cheirinho de café fresco. Aliás, Fernanda Medeiros dedicou um post em seu A Casa Que A Minha Vó Queria com as fotos da casa da dona Iná!

Também chamava a atenção a fotografia e a música, e o enquadramento sempre emoldurado por algum objeto muito característico do cenário de modo a ressaltar a imagem central das cenas. Se não me engano o núcleo responsável pela novela pertence ao diretor da Casa das Sete Mulheres, preciso dizer mais? Mesmo assim, eu digo: a autora da novela é fã de Clarice Lispector, daí que toda a trama se desenrolou em torno de conflitos psicológicos, reverberações introspectivas sobre fatos "tabu" da vida, revisões sócio-culturais sobre a quebra de paradigmas especialmente dos papéis exercidos por  homens e mulheres nos campos profissionais, familiares, amorosos.

O texto se alongou demais... acho que me empolguei ao falar da obra. É a saudade. Talvez os posts por aqui fiquem mais frequentes agora que minhas tardes estão vazias  (Fazendo um pouco de drama).


Falando em casa de boneca, esta imagem em surrupiei do catálogo da Kleiner Schein fábica de móveis de Santa Catarina. Se você der uma olhada no site e morar em São Paulo como eu vai se arrepender amargamente de morar tão longe e depender de lojistas representantes da fábrica que enfiam a faca.